domingo, 1 de setembro de 2013

Coração metrônomo


Andava sem destino quando, de repente, inebriado, me vejo parado diante do mar em plena ressaca de março. Toda aquela movimentação das águas era como uma dança que se encaixava, perfeitamente, ao canto-lamento dos Orixás. Ondas que se quebravam nas pedras, gigantes ondas, agora, devoram-me a alma, rejeitando o corpo grosseiro envolto num lençol de areia. De súbito, vejo a Flor Amada passando ao meu lado, a uma distância impossibilitada de alcance. Ela arrasta, no andar, a Mata Atlântica análoga em um vestido verde e longo. Ah! A saudade roubou-me a racionalidade e deu margem a melancólica sentimentalidade poética. Enfim, tudo girava em torno deste corpo [perecível], no qual um instrumento ainda vivia, batia e chorava.

Murillo César

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