domingo, 14 de novembro de 2010

Já se faz madrugada e dura o tempo necessário para que com ela se firme a minha agonia. Como venta bastante, só se escuta o som (timbrante) das folhagens. O relógio insiste parar evitando que chegue logo a aurora; e com ela se vá a minha solidão!

Murillo César.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Onde se refugia a coragem quando resolve brincar de se esconder com o medo? Um antagonismo que cria uma confusão mental e desequilibra todo o ser ou qualquer estrutura sólida. Um vento que sopra e abala uma arbórea frágil - o medo - sentimento desconcertante e insistente demasiadamente perturbador. Onde se encontra a coragem? Em algum lugar dentro do cenário humano em desorganização [harmônica]. Mas a coragem há de desabrochar, latente, em um coração que ainda pulsa com vontade de viver e aparecer para o medo, que como uma tempestade emocional, passa.

Murillo César.
Os pensamentos vagos são a calmaria do oceano: quem neles adentra, perde-se nas possibilidades de interpretação do seu eu. Quando, repentinamente, surge um navio e resgata o náufrago pensante, o mesmo - na atividade do pensamento - pede para que lhe deixem entregue à ânsia faminta dos seus tubarões.

Murillo César.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Íris esverdeada


Não sei mais se são
os teus olhos que
me encantam ou os teus
lábios que cantam.
Não sei, enfim, se fui
tomado por ondas sonoras
açucaradas da tua voz ou
hipnotizado - no divã - pela íris
esverdeada do teu olhar.

Murillo César.

domingo, 10 de outubro de 2010

A circunstância


De um instante inesperado
Acontece a circunstância
O desvelar da pura ânsia
Implode a alma no acaso.

Desta vida em dissonância
Transeunte solitária
Depara-se n’outrora a consonância
Agora, enfim, já enterrada.

Destemida morte eterna
Que a certeza se encarrega
De amedrontar o meu espírito

Composto etéreo de matéria
Em carne viva de miséria
A reencontrar o seu destino.

Murillo César.

Beleza distorcida de Narciso


Eis me aqui! Defronte a fonte
 de águas límpidas e impuras
O silêncio da madrugada esconde a dinâmica
 da vida na fronte do poeta
A imagem símile me aparece distanciada,
pois o movimento das águas tende a afastá-la
Um barco de papel navega circunscrevendo
a fonte e logo me dou conta da perecividade da existência
Não mais engatinho quando da infância, pois
já me curvo com o olhar fixo à terra, e
quando me dou conta, avisto a beleza distorcida de
Narciso.

Murillo César.

Medéia


Tosão de ouro
Desembarca em pleno mar
À mercê de um cenário
O qual há de se apaixonar
Ideia e sedução
Amor e escuridão
Vingança arrisca ideia
Mitológica Medéia
Feitiços teogônicos
Mergulho em teu mundo
Afogo-me nos teus cultos
Que ensinam-me o amar.

Murillo César.

domingo, 19 de setembro de 2010

Desabafo


Aos críticos o meu silêncio.
Ao amor a minha canção.
Aos aplausos o meu agradecimento.
À miséria do mundo a minha solidão.

Murillo César

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

À Plínio Sérgio (in memoriam), Amado pai Saudoso poeta.

Deixa-me respirar o bálsamo da saudade e despertar dum sonho profundo, no qual me deparo com a caricatura do poeta herói, construtor da história que se rompe num trágico fim terreno para o espectador. E seu espírito? Vivifica, hoje, na esfera cósmica, circunscrito por planetas perfumados pelo sândalo. Seu cheiro alcança a terra, onde ainda vivo como continuação do poeta que, ao contrário dos “corretos”, soube viver. Pingos lacrimais escorrem por entre as nuvens como um leito de rio repousado no horizonte. Mas sempre fica a pergunta: - porque a morte, já que a vida é o caminhar do espírito nas páginas do livro existencial? Ela – a morte – é sempre a ausência de... E eu me conforto nas páginas do seu livro que, Amado pai, me auxiliam na compreensão do por que os bons morrem cedo, e, ao me deparar com o último parágrafo (suspiro) do livro, me dou conta de que é o desfecho da história, que ficará na reminiscência deste pequeno questionador que, enfim, te presta à singela homenagem.

Murillo César

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A estrada e eu

A estrada segue o seu caminho
E a vida passa
Eu passo com a vida
Sem que ela perceba
Que é a minha companheira.
E a companheira passa
E comigo a vida...
Que a estrada se encarrega de caminhar.

Murillo César

A dor


A dor é o elemento fundamental que o ser deve conhecer desde a mais tenra idade. Com aquela se aprende a caminhar firme e calado, descobrindo o que o faz sofredor. Não descoberto, entrega-se aos questionamentos, interroga o sofrimento, se convence de que a dor passa, porém não morre, ela é contínua, muito embora esporádica; todavia o homem morre, enquanto que a dor vive e vive...

Murillo César

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ir-a-racionalidade, irracional

Faz-se noite, não lembro;
apenas uma gota putreficada do orvalho que
ao cair aduba o solo íngreme.
Passos se aproximam.
São cavalgadas de eqüinos selvagens
que rompem o silêncio da madrugada.
As corujas se despertam no
mito das rasga-mortalhas que pronunciam, assim,
a morte próxima da natureza.
Animais fogem dos pastos envenenados por
gramíneas enriquecidas de agrotóxicos e similares.
Os peixes não usam mais as
suas nadadeiras para a prática do nado, nada!
Mas para “correrem” da poluição
que degrada o ambiente aquático.
E fogem; e berram e gritam!
Socorro! Socor----ro! E neste
intervalo de insanidade, caem mortos e envenenados.
Essa é a cadeia alimentar da natureza;
e quem assume, agora a base, é o homem,
pois comanda a degradação que só termina, indubitavelmente,
na sua própria espécie.
É para [ir-a-racionalidade] que
[caminha] a humanidade perversa e
Destruidora.
Todavia o sol não deixa de nascer;
acontece o dia; e morre a noite
na obscura poética.

Murillo César

Poesia


A poesia é uma profunda cratera que transborda os sentimentos em forma de palavras encadeadas, combinando versos, às vezes não necessariamente. É a realidade do poeta, quando não misturada a um punhado de ficção, refratada no conteúdo e na forma, ou simplesmente como sínolo da poesia. É recorrer à métrica como encaixe perfeito de um quebra-cabeça para definir a figura que se deseja construir.

Murillo César

Decrepitude

Quem é aquele “molambo” no asfalto
sangrando hemoglobinas em putrefação,
escorrendo a moral de um dia cidadão,
hoje entregue a decrepitude humana?
Agora levanta-te e anda.
Ou, ajoelha-te elevando suas mãos aos céus e
rogai as forças enterradas na lama,
a mesma que purifica a decrepitude humana.
No momento de lucidez,
se levanta o “molambo”;
na mão uma pedra que atira;
há um espelho se quebrando.

Murillo César

O poetar

Sinto-me, por alguns momentos, vago
desesperado perdido no labirinto da hipocondria.
O metrônomo da vida varia o andamento do compasso,
no qual soa a melodia triste de semínimas.
Meio-tempo, meia-vida, inteira angustia do que não se sabe passar.
Tempo rústico na Era avançada do século XXI, da qual
flores perdem seu perfume e a poluição consome o tempo
O ter prevalece; o ser se corrompe.
Tudo isso entristece o espírito
Pássaros voam com as asas cortadas que [o homem]
as amputou na ânsia de atingir os céus
Perdoai! Pobres homens-deuses
Um deus personificado na vaidade mesquinha dos mesmos
Isso angustia, pois pertenço ao gênero: homo sapiens que sabe... Absolutamente
Vago, olhos perdidos, pensamentos sem nexo
Relativamente claustro, pensando a liberdade do labirinto, recinto;
refúgio dos que sempre “buscam” a vagueza do eu para o poetar.

Murillo César